Uma vida dedicada a um trabalho que beneficia a todos e mesmos assim, ainda é tratada com descriminação como se estivesse cometendo algum crime.
A todo são 53 anos trabalhando com algo que todos rejeitam, mas para essa senhora é sinônimo de dignidade, cidadania e mudança de vida.
Maria das Graças Marçal, mais conhecida como Dona Geralda, é a atual presidente das Asmare (associação dos catadores de papel, papelão e material reaproveitável).
Dona Geralda começou catando papel com oito anos, devido às dificuldades financeiras que sua família passava. Ela era moradora do aglomerado da Pedreira Prado Lopes, morava em um barracão de madeiras e nos períodos chuvosos ia para o centro da cidade para se esconder nas marquises e para sua sobrevivência catava papel.
Dona Geralda tem nove filhos, a sua primeira filha veio aos 16 anos. Perdeu três filhos, e todos foram criados com o sustento tirado do lixo reciclado. “Chegava a tomar dois litros de cachaça por dia para agüentar a rotina do trabalho”, afirma a presidente.
Na década de 1980 os catadores sofriam com perseguições dos fiscais da prefeitura e das pessoas que os tratavam como marginais,e achavam que eles estavam sujando as ruas.Mas essa realidade somente mudou quando a igreja Católica através da pastoral de rua que fazia um trabalho de apoio aos moradores de rua. No início os catadores desconfiavam do apoio da pastoral, eles acreditavam que a prefeitura usava a entidade para prejudicar a sua atividade. Mas como muito luta da pastoral e da união de 20 catadores, a Asmare foi fundada em 1990, e hoje conta com 230 sócios e atendem 1500 pessoas que vivem da coleta de material reciclado. Dezenas de pessoas já passaram pela Asmare e hoje tem outros empregos e conseguiram adquiri casa própria.
A prefeitura de Belo Horizonte ajudou com a construção do primeiro galpão. Hoje a Asmare conta com dois galpões de armazenamento e triagem, oficina de reciclagem e marcenaria. A associação foi pioneira no Brasil, através do seu trabalho e organização outras entidades foram criadas. Dona Geralda ressalta que sempre sofreu discriminação e que já foi expulsa de uma lanchonete devido a condições de sua roupa depois de um dia de trabalho, mas através da associação teve oportunidade de participar de um encontro sobre meio ambiente em Nova York na ONU, convidada pela UNESCO. “Quando voltei desse congresso, não era mais lixeira era a mulher que falou na ONU”, afirma Dona Geralda.
A Asmare tem contribuído com o meio ambiente, inicialmente não era essa a preocupação, mas hoje a associação tem como objetivo a preservação da natureza. “Nos nem sabíamos o que era meio ambiente” Dona Geralda.
A prefeitura paga os vales transportes e uniformes dos trabalhadores. A associação conta com 20 funcionários, e sem ajuda da prefeitura fica difícil pagar todas as contas.
A Asmare conquistou muitas coisas durante seus 21 anos, mas hoje necessita de uma reforma de suas instalações e de um espaço para expor o moveis fabricados pela marcenaria com material reciclado. Além de ajudar para preservação do meio ambiente, a associação tem um importante trabalho no resgate dos moradores de ruas na sociedade.
Neilor Araújo